Publicado em 20/08/2016 11h43

Ao lado de Erlon, Isaquias leva a prata e se consagra nas águas da Lagoa

Brasileiros ditam ritmo da prova, mas, no fim, são passados por time da Alemanha. Isaquias se torna 1º brasileiro com três medalhas em uma única edição olímpica

Dizia o filósofo Heráclito, de Éfeso, que ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Isaquias Queiroz e Erlon de Souza entraram e saíram transformados da Lagoa Rodrigo de Freitas. O "Maluco Beleza" e o menino calado. A figuraça e seu tímido companheiro. Se dá certo? O resultado do C2 1000m neste sábado diz tudo. Embalada pelo apoio da torcida, a dupla conquistou a prata em uma prova extremamente disputada, liderada pelos brasileiros até a marca de 750m. A partir dali, prevaleceu a fortíssima parceria formada pelo experiente Sebastian Brendel, que também venceu Isaquias no C1 1000m na terça, e o jovem promissor Jan Vandrey. No fim, os fãs gritaram "É campeão!" para os brasileiros, que retribuíram com cumprimentos e muita festa. A Ucrânia, de Ianchuck e Mishchuk, ficou em terceiro (confira os tempos no fim da reportagem).

Erlon De Souza Silva e Isaquias Queiroz canoagem (Foto: AFP)

Isaquias Queiroz festeja com seu parceiro Erlon de Souza a conquista da prata (Foto: AFP)



Isaquias acreditava no ouro, mas não faltam motivos para comemoração. Saiu com a prata no C1 1000m, o bronze no C1 200m e, com a prata deste sábado, eternizou de vez seu nome na história olímpica do Brasil. Na verdade, já o tinha feito quando ficou em segundo lugar na prova de estreia e virou o primeiro canoísta brasileiro a conquistar medalha na Olimpíada. Agora, tornou-se o único esportista do país a conseguir subir ao pódio três vezes em uma edição dos Jogos Olímpicos. E ainda gravou seu nome na história olímpica como um todo: é o primeiro a levar três medalhas olímpicas na canoa.

A parceria vitoriosa da canoagem velocidade saiu do Rio de Contas para o Rio de Janeiro.  Agora, foi do Rio de Janeiro para o mundo. Isaquias, filho de Ubaitaba, e Erlon, rebento de Ubatã, deram suas primeiras remadas nesse rio prateado, berço da canoagem do Brasil, que corta mais 11 cidades no estado da Bahia e produz canoístas a cada novo nascimento, já que a embarcação é o principal meio de transporte do local. Eles cresceram, deram duro, superaram, cada um, suas próprias dificuldades. Tudo sob a batuta de Jesús Morlán, que já tinha levado o espanhol David Cal a cinco medalhas olímpicas e, em 2013, resolveu acreditar no projeto da canoagem brasileira.

Erlon de Souza Silva e Isaquias Queiroz; prata;  C2 1.000m; canoagem (Foto: REUTERS/Marcos Brindicci)
Isaquias fez coração para a torcida e apontou para seu parceiro ao ser aplaudido (Foto: REUTERS/Marcos Brindicci)



O estrangeiro teve visão: tirou os meninos da represa de Guarapiranga, foi para a raia olímpica da USP, em São Paulo, mas viu que não daria certo dividir a lagoa com amadores. Os atletas precisavam de foco total. Após muita pesquisa, o comandante fez uma mudança drástica: levou a seleção brasileira para a pacata Lagoa Santa, em Minas Gerais. Adotou um sistema de treinamento de oito semanas de trabalho e apenas uma de folga. Deixou sua família na Colômbia e passou a morar e dividir tudo, até tarefas domésticas, com Isaquias, Erlon e os outros canoístas que fazem parte do time, Ronílson e Nivalter.

Ao longo do tempo, a equipe teve inúmeras conquistas. Dentre elas, vale destacar os dois ouros de Isaquias na prova do C1 500m nos mundiais de Duisburg 2013 (levou também bronze no C1 1000m) e Moscou 2014 (ainda ficou em terceiro no C2 200m, com Erlon), e o ouro mais recente, em Milão 2015, no C2 1000m, com o parceiro habitual (ganhou também o bronze no C1 200m). Agora, adiciona à sua coleção a prata de Erlon e Isaquias, e a outra prata e o bronze do baiano de 22 anos. Que as águas passem, mudem, se renovem... Mas a canoagem nunca vai se esquecer do que viu nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas na Olimpíada do Rio nesta semana.

Isaquias Queiroz e Erlon levam a PRATA na canoagem (Foto: Damien MEYER / AFP)
Isaquias Queiroz e Erlon de Souza: uma parceria que deu certo (Foto: Damien MEYER / AFP)

 

 

 

Veja os tempos da final do C2 1000m:

Ouro - Brendel/Vandrey (ALE) - 3m43s412
Prata - Isaquias Queiroz / Erlon de Souza (BRA) - 3m44s819
Bronze - Ianchuk/Mishchuk (UCR) - 3m45s949
4) Vasbanya/Mike (HUN) -3m46s198
5) Shtokalov/Pervukhin (RUS) - 3m46s776
6) Torres/Jorge (CUB) - 3m48s133
7) Radon/Dvorak (RTC) - 3m49s352
8) Kochnev/Mirbekov (UZB) - 3m52s920

Autoria: G1

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